267. Podem resumir-se nos princípios seguintes os meios de se reconhecer a qualidade dos Espíritos:
1.º.
Não há outro critério, senão o bom senso, para se aquilatar do valor
dos Espíritos. Absurda será qualquer fórmula que eles próprios deem para
esse efeito e não poderá provir de Espíritos superiores.
2.º.
Apreciam-se os Espíritos pela linguagem de que usam e pelas suas ações.
Estas se traduzem pelos sentimentos que eles inspiram e pelos conselhos
que dão.
3.º. Admitido que os bons Espíritos só podem dizer e fazer o bem, de um bom Espírito não pode provir o que tenda para o mal.
4.º.
Os Espíritos superiores usam sempre de uma linguagem digna, nobre,
elevada, sem eiva de trivialidade; tudo dizem com simplicidade e
modéstia, jamais se vangloriam, nem se jactam de seu saber, ou da
posição que ocupam entre os outros. A dos Espíritos inferiores ou
vulgares sempre algo refletem das paixões humanas. Toda expressão que
denote baixeza, pretensão, arrogância, fanfarronice, acrimônia, é
indício característico de inferioridade e de embuste, se o Espíritos apresentam com um nome respeitável e venerado.
5.º. Não se deve
julgar da qualidade do Espírito pela forma material, nem pela correção
do estilo. É preciso sondar-lhe o íntimo, analisar-lhe as palavras,
pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção. Qualquer ofensa à
lógica, à razão e à ponderação não pode deixar dúvida sobre a sua
procedência, seja qual for o nome com que se ostente o Espírito. (N.º
224.)
6.º. A linguagem dos Espíritos elevados é sempre
idêntica, senão quanto à forma, pelo menos quanto ao fundo. Os
pensamentos são os mesmos, em qualquer tempo e em todo lugar. Podem ser
mais ou menos desenvolvidos, conforme as circunstâncias, as necessidades
e as faculdades que encontrem para se comunicar; porém, jamais serão
contraditórios. Se duas comunicações, firmadas pelo mesmo nome, se
mostram em contradição, uma das duas é evidentemente apócrifa e a
verdadeira será aquela que em nada desminta o conhecido caráter da
personagem. Sobre duas comunicações assinadas, por exemplo, com o nome
de São Vicente de Paulo, uma das quais propendendo para a união e a
caridade e a outra tendendo para a discórdia, nenhuma pessoa sensata
poderá equivocar-se.
7.º. Os bons Espíritos só dizem o
que sabem; calam-se ou confessam a sua ignorância sobre o que não
sabem. Os maus falam de tudo com desassombro, sem se preocuparem com a
verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o
bom senso, aponta a fraude, desde que o Espírito se dê por ser um
Espírito esclarecido.
8.º. Reconhecem-se ainda os
Espíritos levianos, pela facilidade com que predizem o futuro e precisam
fatos materiais de que não nos é dado ter conhecimento. Os bons
Espíritos fazem que as coisas futuras sejam pressentidas, quando esse
pressentimento convenha; nunca, porém, determinam datas. A previsão de
qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de
mistificação.
9.º. Os Espíritos superiores se exprimem
com simplicidade, sem prolixidade. Têm o estilo conciso, sem exclusão da
poesia das ideias e das expressões, claro, inteligível a todos, sem
demandar esforço para ser compreendido. Têm a arte de dizer muitas
coisas em poucas palavras, porque cada palavra é empregada com exatidão.
Os Espíritos inferiores, ou falsos sábios, ocultam sob o empolamento,
ou a ênfase, o vazio de suas ideias. Usam de uma linguagem pretensiosa,
ridícula, ou obscura, à força de quererem pareça profunda.
10.º.
Os bons Espíritos nunca ordenam; não se impõem, aconselham; se não
são escutados, retiram-se. Os maus são imperiosos; dão ordens, querem ser
obedecidos e não se afastam, haja o que houver. Todo Espírito que impõe
trai a sua inferioridade. São exclusivistas e absolutos em suas
opiniões; pretendem ter o privilégio da verdade. Exigem crença cega e
jamais apelam para a razão, por saberem que a razão os desmascararia.
11.º.
Os bons Espíritos não lisonjeiam; aprovam o bem feito, mas sempre com
reserva. Os maus prodigalizam exagerados elogios, estimulam o orgulho e a
vaidade, embora pregando a humildade, e procuram
exaltar a importância pessoal daqueles a quem desejam captar.
12.º. Os Espíritos superiores desprezam, em tudo, as
puerilidades da forma. Só os Espíritos vulgares ligam importância a
particularidades mesquinhas, incompatíveis com ideias verdadeiramente
elevadas.
Toda prescrição meticulosa é sinal certo de inferioridade e de fraude, da parte de um Espírito que tome um nome imponente.
13.º.
Deve-se desconfiar dos nomes singulares e ridículos, que alguns
Espíritos adotam, quando querem impor-se à credulidade; fora
soberanamente absurdo tomar a sério semelhantes nomes.
14.º.
Deve-se igualmente desconfiar dos Espíritos que com muita facilidade se
apresentam, dando nomes extremamente venerados, e não lhes aceitar o
que digam, senão com muita reserva. Aí, sobretudo, é que uma verificação
severa se faz indispensável, porquanto isso não passa muitas vezes de
uma máscara que eles tomam, para dar a crer que nos achamos em relações
íntimas com os Espíritos excelsos. Por esse meio, lisonjeiam a vaidade
do médium e dela se aproveitam frequentemente para induzi-lo a atitudes
lamentáveis e ridículas.
15.º. Os bons Espíritos são
muito escrupulosos no tocante às atitudes que hajam de aconselhar. Elas,
qualquer que seja o caso, nunca deixam de objetivar um
fim sério e eminentemente útil. Devem, pois, ter-se por suspeitas todas as que não apresentam
este caráter, ou sejam condenáveis perante a razão, e cumpre refletir
maduramente antes de tomá-las, a fim de evitarem-se mistificações
desagradáveis.
16.º. Também se reconhecem os bons Espíritos pela
prudente reserva que guardam sobre todos os assuntos que possam trazer
comprometimento. Repugna-lhes desvendar o mal, enquanto que aos
Espíritos levianos, ou malfazejos apraz pô-lo em evidência. Ao passo que
os bons procuram atenuar os erros e pregam a indulgência, os maus os
exageram e sopram a cizânia, por meio de insinuações pérfidas.
17.º. Os bons Espíritos só prescrevem o bem. Máxima nenhuma, nenhum conselho, que se não conformem estritamente com a pura caridade evangélica, podem ser obra de bons Espíritos.
18.º. Jamais os bons Espíritos aconselham senão o que seja perfeitamente racional. Qualquer recomendação que se afaste da linha reta do bom senso, ou das leis imutáveis da natureza, denuncia um Espírito atrasado e, portanto, pouco merecedor de confiança.
19.º.
Os Espíritos maus, ou simplesmente imperfeitos, ainda se traem por
indícios materiais, a cujo respeito ninguém se pode enganar. A ação
deles sobre o médium é às vezes violenta e provoca movimentos bruscos e
intermitentes, uma agitação febril e convulsiva, que destoa da calma e
da doçura dos bons Espíritos.
20.º. Muitas vezes, os
Espíritos imperfeitos se aproveitam dos meios de que dispõem, de
comunicar-se, para dar conselhos pérfidos. Excitam a desconfiança e a
animosidade contra os que lhes são antipáticos. Especialmente os que
lhes podem desmascarar as imposturas são objeto da maior animadversão da
parte deles. Alvejam os homens fracos, para os induzir ao mal.
Empregando alternativamente, para melhor convencê-los, os sofismas, os
sarcasmos, as injúrias e até demonstrações materiais do poder oculto de
que dispõem, se empenham em desviá-los da senda da verdade.
21.º.
Os Espíritos dos que na Terra tiveram uma única preocupação, material
ou moral, se se não desprenderam da influência da matéria, continuam sob
o império das ideias terrenas e trazem consigo uma parte dos
preconceitos, das predileções
e mesmo das manias que tinham neste mundo. Fácil é isso de reconhecer-se pela linguagem de que se servem.
22.º.
Os conhecimentos de que alguns Espíritos se enfeitam, às vezes, com uma
espécie de ostentação, não constituem sinal da superioridade deles. A
inalterável pureza dos sentimentos morais é, a esse respeito, a
verdadeira pedra de toque.
23.º. Não basta se
interrogue um Espírito para conhecer-se a verdade. Precisamos, antes de
tudo, saber a quem nos dirigimos; porquanto, os Espíritos inferiores,
ignorantes que são, tratam frivolamente das questões mais sérias. Também
não basta que um Espírito tenha sido na Terra um grande homem, para
que, no mundo espírita, se ache de posse da soberana ciência. Só a
virtude pode, purificando-o, aproximá-lo de Deus e dilatar-lhe os
conhecimentos.
24.º. Da parte dos Espíritos
superiores, o gracejo é muitas vezes fino e vivo, nunca, porém, trivial.
Nos Espíritos zombadores, quando não são grosseiros, a sátira mordaz é,
não raro, muito propositada.
25.º. Estudando-se
cuidadosamente o caráter dos Espíritos que se apresentam, sobretudo do
ponto de vista moral, reconhecer-lhes a natureza e o grau de confiança
que devem merecer. O bom senso não poderia enganar.
26.º.
Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é preciso,
primeiro, que cada um saiba julgar-se a si mesmo. Muita gente há,
infelizmente, que toma suas próprias opiniões pessoais como paradigma
exclusivo do bom e do mau, do verdadeiro e do falso; tudo o que lhes
contradiga a maneira de ver, a suas ideias e ao sistema que conceberam,
ou adotaram, lhes parece mau. A semelhante gente evidentemente falta a
qualidade primacial para uma apreciação sã: a retidão do juízo. Disso,
porém, nem suspeitam. É o defeito sobre que mais se iludem os homens.
Todas
essas instruções decorrem da experiência e dos ensinos dos Espíritos.
Vamos completá-las com as próprias respostas que eles deram, sobre os
pontos mais importantes.