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Quem haja compreendido bem o que dissemos das condições necessárias
para que uma pessoa sirva de intérprete dos bons Espíritos, das
múltiplas causas que os podem afastar, das circunstâncias que,
independentemente da vontade deles, lhes sejam obstáculos à vinda, enfim
de todas as condições
morais capazes de
exercer influências sobre a natureza das comunicações, como poderia
supor que um Espírito, por menos elevado que fosse, estivesse, a todas
as horas do dia, às ordens de um empresário de sessão e submisso às suas
exigências, para satisfazer à curiosidade do primeiro que aparecesse?
Sabe-se que aversão infunde aos Espíritos tudo o que cheira a cobiça e a
egoísmo, o pouco caso que fazem das coisas materiais; como, então,
admitir-se que se prestem a ajudar quem queira traficar com a presença
deles? Repugna pensar isso e seria preciso conhecer muito pouco a
natureza do mundo espírita, para acreditar-se que tal coisa seja
possível. Mas, como os Espíritos levianos são menos escrupulosos e só
procuram ocasião de se divertirem à nossa custa, segue-se que, quando
não se seja mistificado por um falso médium, tem-se toda a probabilidade
de o ser por alguns de tais Espíritos. Estas sós reflexões dão a ver o
grau de confiança que se deve dispensar às comunicações deste gênero. Ao
demais, para que serviriam hoje médiuns pagos, desde que qualquer
pessoa, se não possui faculdade mediúnica, pode tê-la nalgum membro da
sua família, entre seus amigos, ou no círculo de suas relações?