Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Maio

CAUSAS DA OBSESSÃO E MEIOS DE COMBATÊ-LA

QUINTO E ÚLTIMO ARTIGO
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Como deve ter sido notado, o Sr. Constant chegou a Morzine com a idéia da que a causa do mal era puramente físico. Podia ter razão, porque seria absurdo supor a priori uma influência oculta a todo efeito cuja causa é desconhecida. Segundo ele, a causa está inteiramente nas condições higiênicas, climatéricas e fisiológicas dos habitantes.

Estamos longe de pretender devesse ele ter vindo com uma opinião contrária prontinha, o que não teria sido mais lógico Dizemos apenas que com sua idéia preconcebida não viu a que acaso podia referir-se, ao passo que se ao menos tivesse admitido a possibilidade de outra causa, teria visto outra coisa.

Quando uma causa é real, deve poder explicar todos ou efeitos que produz. Se certos efeitos vêm contradizê-la, é que aquela é falsa, ou não é única e, então, é preciso procurar uma outra. Incontestàvelmente é a marcha mais lógica. E a justiça, nas suas investigações em busca da criminalidade, não procede de modo diverso, Se se trata de constatar um crime, chega ela com a idéia de que deve ter sido cometido desta ou daquela maneira, por tal ou qual pessoa? Não. Ela obseril as menores circunstâncias e, remontando dos efeitos às causas, afasta as que são inconciliáveis com os efeitos observados de dedução em dedução, é raro que não chegue à constatação da verdade. Dá-se o mesmo nas ciências. Quando uma dificuldade resta insolúvel, o mais sábio é suspender o julgamento.Então toda hipótese é permitida para tentar resolvê-la. Mas se a hipótese não resolve todos os casos da dificuldade, é que é falsa. Não tem o caráter de uma verdade absoluta se não der a razão de tudo. É assim que no Espiritismo, por exemplo, à parte toda constatação material, remontando dos efeitos às causas, chega-se ao principio da pluralidade das existências, como conseqüência inevitável, porque só ele explica claramente o que nenhum outro pôde explicar.


Aplicando este método aos fatos de Morzine, é fácil ver que a causa Única admitida pelo Sr. Constant está longe de tudo explicar. Ele constata, por exemplo, que geralmente as crises cessam quando os doentes estão fora da comuna. Se, pois, o mal é devido & constituição linfática e à má nutrição dos habitantes, como a causa cessa de agir assim que transpõem a ponte que os separa da comuna vizinha? Se as crises nervosas nãofossem acompanhadas de nenhum outro sintoma, ninguém duvida que se pudesse, aparentemente, atribuí-los a um estado constitucional, mas há fenômenos que não seriam explicados exclusivamente por esse estado.


Aqui o Espiritismo nos oferece uma comparação chocante. No começodas manifestações, quando se viam mesas girando, batendo, erguendo-se no espaço sem ponto de apoio, o primeiro pensamento foi que isso podia ser por ação da eletricidade, do magnetismo ou de outro fluido desconhecido. A suposição não era desarrazoada; ao contrário: oferecia probabilidades. Mas quando se viu que os movimentos davam sinal de inteligência, manifestavam uma vontade própria, espontânea e independente, a primeira hipótese teve de ser abandonada, pois nãoresolvia esta fase do fenômeno, e houve que reconhecer-se uma causa inteligente para um efeito inteligente. Qual era sua inteligência? Foi, ainda, por via da experimentação que a ela se chegou, e não por um sistema preconcebido.


Outro exemplo. Quando, observando a queda dos corpos, Newton notou que todos caíam na mesma direção, procurou a causa e levantou uma hipótese. Esta hipótese, resolvendo todos os casos de mesmo gênero, tornou-se a lei da gravitação universal, lei puramente mecânica, porque todos os efeitos eram mecânicos. Mas suponhamos que veado cair uma maçã esta tivesse obedecido à sua vontade; que ao seu comando em vez de descer tivesse subido, fosse para a direita ou para a esquerda, tivesse parado ou entrado em movimento; que, por um sinal qualquer tivesse respondido ao seu pensamento, ele teria sido forçado a reconhecer algo que não uma lei mecânica, Isto é, que não sendo inteligente, a maçã deveria ter obedecido a uma inteligência. Assim foi com as mesas girantes. Assim é com os doentes de Morzine.


Para não falar senão de fatos observados pelo próprio Sr.Constant, perguntaríamos como uma alimentação má e um temperamento linfático podem produzir a antipatia religiosa em criaturas naturalmente religiosas e até devotas? Se fosse um fato isolado podia ser uma exceção; mas reconhece-se que é geral e que é um dos caracteres da doença lá e alhures. Eis um efeito: procurai a sua causa. Não a conheceis? Seja. Confessai-o, mas não digais que é devido ao fato de os habitantes comerem batatas e pão preto, nem à sua ignorância e inteligência obtusa, porque vos oporão o mesmo efeito entre gente que vive na abundância e recebeu instrução, Se o conforto bastasse para curar a impiedade, ficaríamos admirados de encontrar tantos ímpios e blasfemadores entre as criaturas que de nada se privam.


O regime higiênico explicaria melhor este outro fato não menos característico e geral do sentimento de dualidade, que se traduz de modo inequívoco na linguagem dos doentes? Certo que não. É sempre uma terceira pessoa quem fala. Sempre uma distinção entre ele e a moça, fato constante nos indivíduos no mesmo caso, seja qual for a sua classe social. Os remédios são ineficazes por uma boa. razão: é que são bons, como diz aquele terceiro, para a moça, isto é, para o ser corporal; mas não para o outro, aquele que não é visto e que, entretanto, a faz agir, a constrange, a subjuga, a derruba e se serve de seus membros para bater e de sua boca para falar. Ele diz nada haver visto que justifique a idéia da possessão. Mas os fatos estacam ante os seus olhos; ele mesmo os cita. Podem ser explicados pela. causa que ele lhes atribui? Não. Então esta causa não é verdadeira. Ele via os efeitos morais e devia procurar uma causa moral.


Outro médico, o Dr. Chiara, que também visitou Morzine, publicou sua apreciação **, constatando os mesmos fenômenos e os mesmos sintomas que o Sr. Constant. Mas para ele, como para este último, os Espíritos malignos são imaginação dos doentes. Em seu trabalho encontramos o seguinte fato, a propósito de uma doente:


“O acesso começa por um soluço e movimentos de deglutição, pela flexão e soerguimentos alternativos da cabeça sobre o tronco; depois de várias contorções que lhe dão ao rosto tão suave uma expressão horrorosa: “S... médico, grita ela, eu sou o diabo..., tu queres fazer-me deixar a moça; eu não te temo... vem!... há quatro anos que a domino: ela é minha, nela ficarei. - Que fazes nesta moça? Eu a atormento. E porque, infeliz, atormentas uma pessoa que não te fez nenhum mal? Porque me puseram aqui para atormentá-la. És um celerado. “Aqui paro, atordoado por uma avalanche de injúrias e imprecações.”

Falando de outra doente, diz ele:

“Após alguns instantes de uma cena muda, de uma pantomima mais ou menos expressiva, nossa possessa ‘põe-se a soltar pragas horríveis. Espumando de raiva, injuria-nos a todos com um furor sem igual. Mas digamo-lo já não é a moça que assim se exprime, é o diabo que a possui e. que, servindo-se de seu órgão, fala em seu próprio nome. Quanto à nossa energúmena, é apenas um instrumento passivo no qual foi inteiramente abolida a noção do eu. Se for interpelada diretamente, fica muda: só Belzebu responderá.


“Enfim, depois de uns três minutos esse drama horrível cessa de repente, como que por encanto. A mocinha B... retoma o ar maiscalmo, o mais natural do mundo, como se nada tivesse acontecido. Tricotava antes, eis que tricota depois, parecendo não ter interrompido o trabalho. Interrogo-a; responde que não sente a menor fadiga nem se lembra de nada. Falo-lhe das injúrias. que nos dirigiu: ela as ignora; mas parece contrariar-se e nos pede desculpas.


“Em todas essas doentes a sensibilidade geral é abolida completamente. Podem ser pinçadas, beliscadas, ou queimadas e nada sentem. Numa delas fiz uma dobra na pele e atravessei com uma agulha comum: correu sangue mas ela nada sentiu.


“Em Morzine vi ainda várias dessas doentes fora do estado da crise: eram moças gordas, agradáveis, gozando da plenitude das faculdades físicas e morais. Vendo-as é impossível supor a existência da menor afecção.”


Isto contrasta com o estado raquítico, macilento e sofredor que o Sr.Constant admite ter notado. Quanto ao fenômeno da insensibilidade durante as crises, não é, como se viu, a única aproximação que os fatos apresentam com a catalepsia, o sonambulismo e a dupla visão.

De todas essas observações o Dr. Chiara chegou a esta definição do mal:


“É um conjunto mórbido, formado de diferentes sintomas, tomados um pouco em todo o quadro patológico das moléstias nervosas e mentais; numa palavra, é uma afecção sui generis, para a qual, pouco ligando às denominações, conservarei o nome de hístero-demonia, que já lhe foi dado.


É caso de dizer: “Quem tiver ouvidos, ouça.” É um mal particular, formado de diferentes partes e que tem sua fonte um pouco em toda parte. É o mesmo que dizer simplesmente: “É um mal que não compreendo.” É um mal sui generis: estamos de acordo; mas qual esse gênero, ao qual nem sabeis dar o nome?

Poderíamos provar a insuficiência de uma causa puramente material para explicar o mal de Morzine, por muitas outras aproximações, que os próprios leitores farão. Reportem-se aos artigos precedentes, ao que dizemos da maneira por que se exerce ação dos Espíritos obsessores, dos fenômenos resultantes dessa ação, e a analogia ressaltará com a última evidência. Se, para a gente de Morzine, o terceiro que interfere é o diabo, é porque lhes disseram que era o diabo e eles só sabiam isto. Aliás é sabido que certos Espíritos de baixo nível divertem-se tomando nomes infernais para apavorar. A este nome substitui em sua boca o vocábulo Espírito, ou antes, maus Espíritas e tereis a reprodução idêntica de todas as cenas de obsessão e de subjugação que referimos. É incontestável que, numa região onde dominasse & idéia do Espiritismo, sobrevindo tal epidemia, os doentes se dissessem solicitados por maus Espíritos, quando, aos olhos de certas pessoas parecessem loucos. Dizem que é o diabo; é uma afecção nervosa, É o que teria acontecido em Morzine, se o conhecimento do Espiritismo ali tivesse precedido a invasão desses Espíritos. Então os adversários teriam gritado: socorro! Mas a Providência não lhes quis dar essa satisfação passageira: ao contrário, quis provar sua importância para combater o mal pelos meios ordinários.

No final de contas, recorreram ao afastamento das doentes, que foram dirigidas para os hospitais de Thomon, Chambéry, Lyon, Mâcon etc. O meio era bom porque, quando todas transportadas, podiam se gabar de que não existiam mais doentes na região. A medida podia basear-se num fato observado, o da cessação das crises fora da comuna; mas parece ter-se baseado em outra consideração: o isolamento das doentes. Aliás a opinião do Sr. Constant é categórica: Deveria haver uma espécie de lazareto, diz ele, onde pudessem ser escondidas, assim que se mostrassem, as desordens morais e nervosas, cuja propriedade contagiosa é estabelecida, como disse meu velho amigo Dr.Bouchut. Esperando melhor, tal lazareto foi encontrado no asilo de alienados. É o único lugar verdadeiramente conveniente para o tratamento racional e completo das moléstias que me ocupam, quer se admita que sua doença é mesmo uma forma, uma variedade de alienação, quer mesmo não admitindo que usem, sob qualquer titulo, tomadas como alienadas. É necessário sobre elas produzir um certo grau de intimidação, ocupar seu espírito de modo a deixar o menos tempo possível às suas preocupações por outra preocupação; subtraí-las absolutamente toda influência religiosa irrefletida e desmedida, às conversas, aos conselhos ou observações susceptíveis de alimentar seu erro, que, ao contrário, deve ser combatido diariamente; dar-lhes um regime apropriado; obrigá-las, enfim, a se submeterem às prescrições que seria útil associar a um tratamento puramente moral e ter os meios de execução. Onde encontrar reunidas todas essas condições necessárias, essenciais, senão num asilo? Teme-se para essas doentes o contacto com as verdadeiras alienadas. Tal contacto seria menos prejudicial do que se pensava e, afinal, teria sido fácil conservar provisoriamente um pavilhão só para as doentes de Morzine, Se sua aglomeração tivesse qualquer inconveniente, ter-se-ia encontrado compensação na própria reunião e estou convicto de que o nome de asilo, casa de loucos, por si só tivesse produzido mais de uma cura que se tivessem encontrado poucos diabos que uma ducha não tivesse posto em fuga.”


Estamos longe de partilhar. do otimismo do Sr. Constant sobre a inocuidade do contacto dos alienados e a eficácia das duchas emcasos semelhantes. Ao contrário, estamos persuadidos de que em tal regime pode produzir uma verdadeira loucura, onde esta é apenas aparente. Ora, note-se bem que fora das crises, as doentes têm todo o bom senso e são sãs de corpo e Esrito; não há nelas senão uma perturbação passageira, sem quaisquer caracteres da loucura propriamente dita. Seu cérebro necessariamente enfraquecido pelos ataques freqüentes que experimenta, seria ainda mais facilmenteimpressionável pela visão dos loucos e pela só idéia de achar-se entre loucos, O Sr. Constant atribui o desenvolvimento e a continuidade da moléstia à imitação, à influência das conversas dos doentes entre si e aconselha a pô-las entre loucos ou isolá-las num pavilhão do hospital! Não é uma contradição e é isto que ele entende por tratamento moral?


Em nossa opinião o mal se deve a uma causa absolutamente diversa e requer meios curativos diferentes. Tem a sua fonte na reação incessante que existe entre o mundo visível e o invisível, que nos cerca, e em cujo meio vivemos, isto é, entre os homens e os Espíritos, que não’ passam de almas dos que viveram e entre os quais há bons e maus. Esta reação é uma das forças, uma das leis da natureza, e produz uma porção de fenômenos psicológicos, fisiológicos e morais incompreendidos, porque a causa era desconhecida. O Espiritismo nos deu a conhecer esta lei, e, desde que os efeitos são submetidos a uma lei da natureza, nada têm de sobrenatural. Vivendo no meio desse mundo, que não é tão Imaterial quanto o imaginam, uma vez que esses seres, embora invisíveis, têm corpos fluídicos semelhantes aos nossos, nós sentimos a sua influência. À dos bons Espíritos é salutar e benéfica; a dos maus é perniciosa como o contacto das criaturas perversas na sociedade.

Assim, dizemos que em Morzine abateu-se, de momento, uma ativem de Espíritos malfazejos; abateu-se sobre a localidade como aconteceu sobre muitas outras; e não será com duchas nem alimentos suculentos que serão expulsos. Uns o chamam diabos ou demônios; nós os chamamos apenas maus Espíritos e Espíritos inferiores, o que não implica uma melhor qualidade, mas o que muito diferente pelas conseqüências, visto como a idéia ligada aos demônios é a de seres a parte, enquanto eles não passam de almas de homens que foram maus na terra, mas que acabarão por se melhorarem um dia. Vindo a essa localidade como Espíritos, fazem o que teriam feito como se vindos em vida, isto é, o mal que faria um bando de malfeitores. É, pois, necessário expulsá-los, como se expulsaria uma tropa inimiga.


Na natureza desses Espíritos está o serem antipáticos à religião, porque temem o seu poder, assim como os criminosos são antipáticos à lei e aos juizes que os condenam. E exprimem esse sentimento pela boca de suas vitimas, verdadeiros médiuns, inconscientes, absolutamente certos quando dizem ser apenas ecos. O paciente é reduzido à passividade; está na. situação de um. homem dominado por um inimigo mais forte, que o obriga a fazer a sua vontade. O eu do Espírito estranho neutraliza momentaneamente o eu pessoal. Há subjugação obsessional e não possessão.

Que absurdo! dirão certos médicos. Vá que seja absurdo, mas nem por isso deixa de ser tido como .verdade por grande número de médicos. Tempo virá e não tão longe quanto se pensa em que a ação do mundo Invisível será geralmente admitida e a Influência dos maus Espíritos posta entre as causas patológicas. Será levado em conta o importante papel desempenhado pelo perispírito na fisiologia e uma nova via de cura será aberta para uma porção de doenças considerada incuráveis.

Se assim é, perguntarão, de onde vem à inutilidade dos exorcismos? Isto prova uma coisa: é que os exorcismos, tais quais são aplicados, não valem mais que os remédios, porque sua eficácia não está no ato exterior, na virtude das palavras e sinais, mas no ascendente moral exercido sobre os maus Espíritos.


Os doentes não diziam: “Não são remédios que nos faltam: mas padres santos”. E os insultavam, dizendo que não eram bastante santos para ter ação sobre os demônios. Era a alimentação de batatas que os levava a falar assim? Não: mas a intuição da verdade. Em casos semelhantes a ineficácia do exorcismo é constatada pela experiência. E por que? Porque consiste em cerimônias e formulas de que se riem os maus Espíritos, ao passo que cedem ao ascendente moral que lhe impõem; vêem que os querem dominar por meios impotentes e querem mostrar-se mais fortes. São como o cavalo passarinheiro que derruba o cavaleiro inábil, mas se dobra quando encontra um mestre.

“Numa dessas cerimônias, “diz o Dr. Chiara, “houve na igreja, onde haviam reunido todos os doentes, um tumulto horrível. Todas as mulheres caíram em crise simultaneamente, derrubando, quebrando os bancos da igreja e rolando pelo chão, de mistura com homens e crianças, que em vão se esforçavam por contê-las. Proferem juras horríveis e incríveis; interpelam os sacerdotes nos mais injuriosos termos.”

Neste momento cessaram as cerimônias públicas de exorcismo, mas foram exorcizar a domicílio, a qualquer hora do dia e da noite, o que não deu melhores resultados, determinando-se sua renúncia.


Citamos vários exemplos da força moral em semelhantes casos; e, caso não tivéssemos sob os olhos um número suficiente de provas, bastaria lembrar a que exercia o Cristo que, para expulsar os demônios, apenas mandava que se retirassem. Comparem-se, nos E os possessos daquele tempo com os de nossos dias, e ver-se-á uma chocante similitude. Jesus os curava por milagres, direis vós. Seja. Mas eis um fato passado entre os cismáticos e que não considerais miraculoso.

O Sr. A..., de Moscou, que não havia lido o nosso relato, contava-nos, poucos dias, que nas suas propriedades os habitantes de uma aldeia foram atingidos por um mal em tudo semelhante ao de Morzine. Mesmas crises, mesmas convulsões, mesmas blasfêmias, mesmas injúrias contra os padres, mesmo efeito do exorcismo, mesma impotência da ciência médica. Um de seus tios, o Sr. R..., de Moscou, poderoso magnetizador, homem de bem por excelência, de coração muito piedoso, tendo vindo visitar aqueles infelizes, parava as convulsões mais violentas pela simples imposição das mãos, acompanhada de fervorosa prece. Repetindo o ato, acabou curando quase todos radicalmente.


Este exemplo não é único. Como explicá-lo, senão pela in
fluência do magnetismo, secundada pela prece, remédio pouco usado pelos nossos materialistas, porque não se encontra no codex nem nas farmácias? contudo, remédio poderoso quando parte do coração e não dos lábios, e que se apóia numa fé viva e num ardente desejo de fazer o bem. Descrevendo a obsessão em nossos primeiros artigos, explicamos a ação fluídica que se exerce em tal circunstância e dai concluímos, por analogia, que teria sido um poderoso auxiliar em Morzine.

Como quer que seja, parece que o mal chegou a seu termo, mas as condições da região continuem as mesmas.

Por que isto? é o que ainda não nos é permitido dizer. Como, porém, mais tarde será reconhecido, haverá servido ao Espiritismo mais do que se pensa, ainda quando não fosse senão para provar, por um grande exemplo, que aqueles que não o conhecem não estão preservados contra a ação dos maus Espíritos e a impotência dos meios ordinários empregados para os expulsar.

Terminaremos assegurando a certos habitantes da região sobre a pretensa influência de alguns dentre eles teria podido exercer causando o mar, como o dizem. A crença nos lançadores da sorte deve ser relegada entre as superstições. Que sejam de coração piedoso; e os que se encarregaram de os conduzir se esforcem por elevá-los moralmente: é o mais seguro meio de neutralizar a Influência dos maus Espíritos e de prevenir a volta do que se passou. Os maus Espíritos só se dirigem àqueles a quem sabem poder dominar e não àqueles a quem a superioridade moral não dizemos intelectual encouraça contra os ataques.

Aqui se apresenta uma objeção muito natural, que convém prevenir. Talvez perguntem por que todos os que fazem o mal não são atingidos pela possessão? A isto respondemos que, fazendo o mal, sofre de outra maneira a perniciosa influência dos maus Espíritos, cujos conselhos escutam, pelo que serão punidos com tanto mais severidade quanto mais agirem com conhecimento de causa. Não creiais na virtude de nenhum talismã, nenhum amuleto, nenhum signo, nenhuma palavra para afastar os maus Espíritos. A pureza de coração e de intenção, o amor de Deus e do próximo, eis o melhor talismã, porque lhes tira todo Império sobre as nossas almas.

Eis a comunicação que a respeito deu o Espírito de São Luís, guia espiritual da Sociedade Espírita de Paris:

Os possessos de Morzine estão realmente sob a influência dos maus Espíritos, atraídos para aquela região por causas que conhecereis um dia, ou melhor, que vós mesmos reconhecereis um dia. O conhecimento do Espiritismo ali fará predominar a boa Influencia sobre a má fé, isto é, os Espíritos curadores e consoladores, atraídos pelos fluidos simpáticos, substituirão a maligna e cruel influência que desola aquela população. o Espiritismo está chamado a prestar grandes serviços: será o curador dos males cuja causa era antes desconhecida e ante às quais a ciência continua impotente; sondará as chagas mortais e lhes ministrará o bálsamo reparador; tornando os homens melhores, deles afastará os maus Espíritos atraídos pelos vícios da humanidade. Se todos os homens fossem bons, os maus Espíritos deles se afastariam porque não poderiam os induzir ao mal. A presença dos homens de bem os faz fugir; a dos homens viciosos os atrai, ao passo que se dá o contrário com os bons Espíritos. Assim, sede bons, se quiserdes ter apenas bons Espíritos em redor de vós. (Médium, Sra. Costel).



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(*) Ver as números de dez. de 1862; jan., fev. e abril de 1868. Ver também sobre o mesmo assunto o número de abril de 1862.

(**)Les Diables de Morzlue, chez. Mégret, qual de 1’Hôpital. 51, à Lyon.


Indicam-nos de vários pontos novas prédicas contra o Espiritismo, todas no mesmo espírito de que temos falado. Como nunca passam de variantes do mesmo pensamento, em termos mais ou menos escolhidos, julgamos supérfluo fazer-lhes a análise. Limitar-nos-emos a destacar certas passagens, acompanhando-as de algumas reflexões.

“Meus irmãos, é um cristão que fala a cristãos e, como tal, temos o direito do nos admirarmos, vendo o Espiritismo crescer entre nós. Que é o Espiritismo, eu vos pergunto, senão uma mistura de horrores que só a loucura pode justificar?”

A isto nada temos a dizer senão que todas as prédicas feitas nesta cidade não detiveram o crescimento do Espiritismo, como constata o orador. Portanto, os argumentos que lhe opõem são menos válidos que os seus. Portanto, se as prédicas vêm de Deus e o Espiritismo do diabo, é que este é mais poderoso que Deus. Nada mais brutal que um fato. Ora, o fato da propagação do Espiritismo por força das prédicas é notório, portanto, é que as pessoas acham os argumentos por ele dados mais convincentes que os dos adversários. É um tecido de horrores, que seja, mas haveis de concordar que se esses Espíritos viessem ocupar vossas ideias, em vez de demônios vós os faríeis santos, e longe de condenar as evocações, vós as encorajaríeis.

“Nosso século não respeita mais nada. Nem a cinza dos túmulos é respeitada, pois insensatos ousam chamar os mortos para entreter-se com eles. Contudo é assim, e eis onde chegou esse pretenso século das luzes: conversar com os mortos.” Conversar com os mortos não é um acontecimento deste século, pois a história de todos os povos prova que isto tem sido feito em todos os tempos. A única diferença é que hoje isto é feito em toda parte, sem os acessórios supersticiosos com que outrora cercavam as evocações; é feito com um sentimento mais religioso e mais respeitoso.

De duas uma: ou a coisa é possível, ou não é. Se não é, é uma crença ilusória, como acreditar na fatalidade da sexta-feira e na influência do sal derramado. Não vemos, pois, que haja tantos horrores e que se falte com o respeito conversando com gente que não está mais aqui. Se os mortos vêm conversar conosco, só pode ser com a permissão de Deus, a menos que se admita que venham sem essa permissão, ou contra a sua vontade, o que implicaria que Deus não se importa com isso, ou que os evocadores são mais poderosos que Deus.

Notai, porém, as contradições. De um lado dizeis que o diabo se comunica; do outro que se perturbam as cinzas dos mortos, chamando-os. Se é o diabo, não são os mortos, portanto não são perturbados nem se lhes falta com o respeito. Se são os mortos, então não é o diabo. Seria preciso, ao menos, que vos pusésseis de acordo neste ponto capital.

Admitindo que sejam os mortos, reconhecemos que haveria profanação em chamá-los levianamente, por motivos fúteis, e sobretudo para fazer disto profissão lucrativa. Todas essas coisas nós condenamos, e não assumimos responsabilidade por aqueles que se afastam dos princípios do Espiritismo sério, assim como vós não assumis pela dos falsos devotos que da religião só têm a máscara; que pregam o que não praticam, ou que especulam com as coisas santas. Certamente evocações feitas em condições burlescas atribuídas a um eloquente orador, que citamos mais adiante, seriam um sacrilégio, mas, graças a Deus, não entramos nisso e não cremos que a do Sr. Viennois, igualmente relatada adiante, esteja neste caso.

“Eu mesmo testemunhei esses fatos, e ouvi pregar a moral e a caridade, é verdade. Mas sobre que se apoiam essa moral e essa caridade? Ah! Sobre nada. Pode chamar-se moral uma doutrina que nega as penas eternas?”

Se essa moral conduz a fazer o bem sem temor das penas eternas, não tem senão maior mérito. Outrora julgava-se impossível manter os estudantes sem medo da palmatória. Eram melhores? Não. Hoje ela não mais é usada e eles não são piores: ao contrário. Então o regime atual é preferível. Julga-se a bondade de um meio pelos seus efeitos. Aliás, a quem se dirige essa moral? Precisamente aos que não acreditam as penas eternas e a quem damos um freio que aceitam, enquanto vós não lhes dais, pois não aceitam o vosso. Nós impedimos de crer na danação absoluta àqueles a quem isto convém? Absolutamente. Ainda uma vez, não nos dirigimos aos que têm fé e aos quais esta basta, mas aos que não a têm ou que duvidam. Preferiríeis que eles ficassem na incredulidade absoluta? Seria pouco caridoso. Temeis que vos tomem ovelhas? É que não tendes muita confiança no poder dos vossos meios para retê-las. É que receais sejam elas atraídas pela erva tenra do perdão e da misericórdia divina. Credes, então, que as que flutuam incertas preferirão as fornalhas do inferno? Por outro lado, quem deve estar mais convencido das penas eternas do que os que são alimentados no seio da Igreja? Ora! Dizei por que essa perspectiva não parou todos os escândalos, todas as atrocidades, todas as prevaricações contra as leis divinas e humanas que formigam na história e que se reproduzem incessantemente em nossos dias? São crimes ou não? Se, pois, os que fazem profissão dessa crença não se detêm, como querer que se detenham os que não creem? Não, ao homem esclarecido dos nossos dias é preciso outro freio, que sua razão admita. Ora, a crença nas penas eternas, talvez útil em outras épocas, passou da moda. Ela se extingue dia a dia, e por mais que fizerdes, não dareis vida a um cadáver, como não fareis reviver os usos, costumes e ideias medievais.

Se a Igreja Católica julga sua segurança comprometida pelo desaparecimento dessa crença, é o caso de lamentá-la por repousar sobre uma base tão frágil, porque se ela tem um verme roedor, é o dogma das penas eternas.

“Assim, apelo à moralidade de todas as almas honestas; apelo aos magistrados, pois eles são responsáveis por todo o mal que semelhante heresia atrai sobre as nossas cabeças.”

Não sabíamos que na França os magistrados fossem encarregados de perseguir os heréticos, porque se entre eles há católicos, há também protestantes e judeus heréticos, que seriam assim encarregados, eles próprios, de se perseguirem e se condenarem. E os há entre os funcionários dos mais altos níveis.

“Sim, os espíritas, não temo declarar alto e bom som, não somente são passíveis da polícia correcional, da Corte Imperial, mas, ouvi-o bem, são passíveis do tribunal civil, porque são falsários, pois eles assinam comunicações em nome de honradas figuras que certamente não as teriam assinado em vida, figuras que tanto fazem falar hoje em dia.”

Os espíritas estão realmente muito felizes que Confúcio, Sócrates, Platão, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, Fénelon, etc., não possam vir lhes mover processos por crimes de falsificação de escritos. Mas eu penso nisto: eles teriam uma tábua de salvação precisamente nos tribunais, nos quais serão justiçáveis, porque lá estão os jurados que se pronunciam segundo a sua consciência. Ora, entre eles há também protestantes e judeus; há, até ─ coisa abominável! ─ filósofos, incrédulos, horríveis livres-pensadores que, à vista de nossas detestáveis leis modernas, se acham em toda parte. Assim, se nos acusam de fazer Santo Agostinho dizer alguma coisa de heterodoxo, também encontraremos jurados que nos absolvam. Ó perversidade do século! Dizer que em nossos dias Voltaire, Diderot, Lutero, Calvino, João Huss, Arius, teriam sido jurados por direito de nascimento, que poderiam ter sido juízes, prefeitos, ministros de justiça e mesmo dos cultos! Vós os vedes, esses bichos do inferno, a se pronunciarem sobre uma questão de heresia, porque, para condenar a assinatura de Fénelon posta numa comunicação dita herética, é preciso julgar a questão da ortodoxia, e quem será competente no júri?

“Entretanto, seria tão fácil interditar semelhantes malefícios! O que seria preciso fazer? O mínimo. Mesmo sem lhes fazer a honra da capa de comissário, podeis postar um sargento à entrada de cada grupo para dizer: Aqui não se entra! Pinto o mal, descrevo o remédio, nada mais, nada menos, porque os dispenso da inquisição.”

Muito obrigado, mas não há muito mérito em oferecer aquilo que não se tem. Infelizmente não tendes a inquisição, sem o que seria duvidoso que nos concedêsseis o indulto.

Por que não dizeis, então, aos magistrados para interditarem a entrada dos templos judeus e protestantes, onde pregam publicamente dogmas que não são os vossos? Quanto aos espíritas, eles não têm templos nem sacerdotes, mas grupos, o que para vós é a mesma coisa, à entrada dos quais basta pôr um sargento, para que tudo fique dito. Com efeito, é muito simples. Mas esqueceis que os Espíritos forçam todas as barreiras e entram em qualquer parte sem pedir permissão, mesmo em vossa casa, pois os tendes ao vosso lado, escutando-vos, sem que o suspeiteis e, o que mais é, vos falam ao ouvido. Repassai bem vossas lembranças e vereis que tendes tido mais que uma manifestação sem buscá-la.

Parece que ignorais uma coisa que é bom saibais. Os grupos espíritas não são absolutamente necessários. São apenas reuniões onde se sentem felizes por encontrar-se pessoas que pensam do mesmo modo. Prova disto é que hoje na França há mais de 600.000 espíritas, 99% dos quais não fazem parte de nenhum grupo e neles jamais puseram os pés; que eles não existem numa porção de cidades; que nem os grupos nem as sociedades abrem suas portas ao público para pregar sua doutrina aos transeuntes; que o Espiritismo se prega por si mesmo e pela força das coisas, porque responde a uma necessidade da época; que suas ideias estão no ar e são aspiradas por todos os poros da inteligência; que o contágio está no exemplo dos que são felizes com essas crenças, e que eles são encontrados por toda parte, no mundo todo, sem ter que procurá-los nos grupos.

Assim, não são os grupos que fazem a propaganda, pois não acolhem o primeiro que apareça. Ela é feita de vizinho a vizinho, de indivíduo a indivíduo. Admitindo a interdição de todas as reuniões, os espíritas ficariam livres para se reunirem em família, como se faz em milhares de lugares, sem que nada sofra o Espiritismo; ao contrário, pois temos sempre condenado as grandes assembleias, mais nocivas do que úteis, sendo a intimidade reconhecida como a condição mais favorável às manifestações. Interditareis as reuniões em família? Colocareis um sargento à porta de cada sala para vigiar o que se passa à lareira? Isto não se faz na Espanha nem em Roma, onde há mais espíritas do que pensais. Não faltaria senão isso para aumentar ainda mais a importância do Espiritismo.

Admitamos agora a interdição legal dos grupos. Sabeis o que fariam esses espíritas que acusais de semear a desordem? Eles diriam: “Respeitemos a lei; dura lex, sed lex. Demos o exemplo e mostremos que se pregamos a união, a paz e a concórdia, não é para nos tornarmos fatores de desordem. As sociedades organizadas não são condições necessárias para a existência do Espiritismo. Não há entre elas qualquer solidariedade material que possa ser quebrada por sua supressão. O que os espíritas aí ensinam, ensinam igualmente de pessoa para pessoa. O Espiritismo tem esse privilégio incrível de ter seu foco de ensino por toda parte. Seu sinal de ligação é o amor a Deus e ao próximo, e para colocá-lo em prática, não são necessárias reuniões oficiais. Ele tanto se estende sobre os amigos como sobre os inimigos.”

Qualquer um pode dizer o mesmo, e a autoridade não tem encontrado tantas vezes a resistência onde pensava encontrar a maior submissão? Se os espíritas são gente tão turbulenta e tão pervertida quanto pretendeis, por que é que nos centros onde eles são mais numerosos, os encarregados da manutenção da ordem têm menos trabalho, o que levou um deles a dizer que se todos os seus administrados fossem espíritas, ele podia fechar a repartição?

Por que entre os militares espíritas há menos penas disciplinares?

E depois, não imaginais que atualmente há espíritas por toda parte, de alto a baixo na escala social; que há reuniões e médiuns até em casa daqueles que invocais contra nós. Vedes, pois, que o vosso meio é insuficiente. É preciso encontrar outro.─ Temos os raios do púlpito!

─ Está bem, e vós o usais largamente, mas não vedes que por toda a parte onde o fulminam o Espiritismo aumenta?

─ Temos a censura da Igreja e a excomunhão.

─ É melhor, mas, ainda uma vez, bateis no vazio; ainda uma vez, o Espiritismo não se dirige a vós nem aos que estão convosco; ele não vai buscá-los para dizerlhes: deixai a vossa religião e segui-me; sereis danados, se não o fizerdes. Não. Ele é mais tolerante que isso e deixa a cada um a liberdade de consciência. Como já dissemos, ele se dirige à massa inumerável dos incrédulos, dos dúbios, dos indiferentes. Esses não estão convosco, e vossas censuras não podem atingi-los. Eles vinham a vós, e vós os repelíeis. É simplesmente errado. Se alguns dos vossos os seguem, é que vossos argumentos não são bastante fortes para retê-los, e não é com rigor que o conseguireis.

O Espiritismo agrada porque não se impõe. Ele é aceito pela vontade e pelo livre exame. Nisto ele é de nossa época. Ele agrada pela doçura, pelas consolações que proporciona nas adversidades, pela inabalável fé no futuro, que ele dá, na bondade e na misericórdia de Deus. Ademais, ele se apoia em fatos patentes, materiais, irrecusáveis, que desafiam toda negação. Eis o segredo de sua tão rápida propagação.

Que lhe opondes? Sempre a danação eterna, meio mau para os tempos que correm; depois, a deformação de suas doutrinas. Vós o acusais de pregar o aborto, o adultério e todos os crimes. A quem pensais impor isto? Certamente não é aos espíritas. Aos que não o conhecem? Mas nesse número muitos querem saber o que é essa abominável doutrina; leem, e vendo que ela diz exatamente o contrário do que lhe atribuís, vos deixam para segui-la, e isto sem que ele vá procurá-lo.

A posição, bem sei, é embaraçosa, porque dizeis: Se falamos contra o Espiritismo, recrutamos-lhe partidários; se nos calamos, ele anda sozinho. Que fazer então? Outrora se dizia: Deixai passar a justiça do rei; agora é preciso dizer:

Deixemos passar a justiça de Deus.

(Continua no próximo número).


Sr. Philibert Viennois
(Sociedade Espírita de Paris, 20 de março de 1863 - Médium: Sr. Leymarie)

1. Evocação. ─ Estou junto de vós.

2. ─ Havíeis combinado com a Sra. V... que dos dois o que ficasse vivo dirigirse-ia a mim para evocar o que havia partido. A Sra. V... notificou-me desse compromisso, e tenho prazer em concordar. Sei que éreis um espírita fervoroso, além de dotado de bom coração. Estas circunstâncias só podem alimentar o desejo de nos comunicarmos convosco. ─ Posso então escrever-te e me aproximar de ti, para te exprimir tudo quanto o meu Espírito sente de benevolência a teu respeito. Obrigado por toda a felicidade que me deste, querida esposa, tu que me fizeste amar a crença, santa regra dos meus últimos dias junto de ti. Sinto-me muito feliz por colher hoje todos os bens que nos eram prometidos pela fé venerada que nos revela a existência de outra vida que não a da Terra. Estou de posse de uma força desconhecida pelos homens; a imensidade nos pertence; eu posso compreender melhor e melhor amar-te. Minhas sensações não são mais obscuras e o que há de divino em nós é de uma simplicidade extrema, porque tudo o que é grande é simples. A grandeza é o verdadeiro elemento do Espírito. Estou sempre perto de ti. De agora em diante serás feliz, porque eu te cercarei com meu fluido que te fortalecerá, se for necessário. Quero que sejas sempre corajosa, boa e sobretudo espírita. Com estes três elementos bendirás a Deus por me ter chamado, pois eu te espero, persuadido que, graças ao Espiritismo, Deus te reserva um bom lugar entre nós.

3. ─ Peço-vos a bondade de nos descrever vossa passagem ao mundo dos Espíritos, vossas impressões e a influência dos conhecimentos espíritas em vossa elevação. ─ A morte, que eu esperava, não era sofrimento para mim, mas antes um desligamento completo da matéria. O que eu via era uma nova vida. O futuro divino, essa hora desejada, veio com calma. É certo que eu sentia falta de minha companheira, que não podia deixar sem dor: é o último elo da cadeia que une o Espírito à matéria; uma vez rompido, pouco sofri a passagem da vida à morte. Meu Espírito levou as preces de minha bem-amada. Todas as impressões se extinguiram para me acordar em nosso domínio, no domínio dos Espíritos. A viagem é um sono para o justo; a ruptura é natural; mas, ao primeiro despertar, que admiração! Como tudo é novo, esplêndido, maravilhoso! Aqueles que eu amava e outros Espíritos, meus amigos de precedentes encarnações, acolheram-me e abriram as portas da existência verdadeira, neste parque sem limites chamado Céu. Minhas impressões, não as podeis compreender nem eu poderia exprimi-las. Tentarei vo-las transmitir de outra vez.

4. ─ Ao receber a carta da Sra. V..., dirigi-lhe uma prece adequada. Podeis dizer-me o que pensais a respeito? ─ Obrigado pela vossa bondade, Sr. Kardec! Não poderíeis ter feito melhor. Os que choram os ausentes necessitam do Espírito de Deus, mas também do apoio de outros Espíritos benevolentes, e os Espíritos devem sê-lo. Vossa prece comoveu muitos Espíritos levianos e incrédulos, que são as testemunhas invisíveis de vossas sessões (A prece tinha sido lida na Sociedade, após a evocação). Vossas boas palavras servirão para o seu adiantamento. Vós fazeis ao nosso mundo, com frequência, o bem que dele recebeis. Não desdenhar o conselho de alguém menor do que nós próprios é reconhecer esse laço íntimo criado por Deus entre todas as criaturas.

5. ─ Eu queria vos pedir me désseis uma comunicação para a Sra. V..., mas vejo que vos antecipastes ao meu pensamento. ─ À vossa primeira pergunta respondi à minha mulher, quando deveria tê-lo feito à Sociedade Espírita. Perdoai-me, porque eu cumpria uma promessa. Sei que, pela persuasão, atraís aqueles que pedem para ser consolados. Conversar com os seres do outro mundo será a maior felicidade dos que não sacrificam tudo ao ouro e ao prazer. Por favor, dizei à minha mulher que minha presença não lhe faltará nunca. Trabalharemos juntos para o seu progresso espiritual. Mandai-lhe minha comunicação. Eu queria dizer-lhe tantas boas palavras, mas me faltam as expressões. Que ela ame sempre a nossa família, a fim de que, por seu exemplo, ela possa tornar-se espírita e crer na vida eterna, que é a vida de Deus.

VIENNOIS

Julgamos dever publicar a prece acima referida, e que nos foi dada pelos Espíritos para as circunstâncias análogas.

Prefácio

─ Como é horrível a ideia do nada! Como são lamentáveis os que acreditam que a voz do amigo que chora seu amigo se perde no vácuo e não acha eco que a responda! Jamais conheceram as puras e santas afeições, esses que pensam que tudo morre com o corpo; que o gênio que iluminou o mundo com sua vasta inteligência é um jogo da matéria, que se extingue para todo o sempre, como um sopro; que do mais caro ser, de um pai, de uma mãe, ou de um filho adorado, não resta mais que um punhado de pó que o tempo dissipa para sempre!

Como pode um homem de coração manter-se frio ante tal pensamento? Como a ideia do aniquilamento absoluto não o gela de terror e, ao menos, não lhe faz desejar que assim não seja?

Se até hoje não bastou a razão para nos arrancar das dúvidas, eis que o Espiritismo vem dissipar toda incerteza sobre o futuro, pelas provas materiais da sobrevivência da alma e da existência dos seres de além-túmulo que ele nos dá.

Assim, por toda parte essas provas são acolhidas com alegria, e a confiança renasce, porque daí em diante, o homem sabe que a vida terrestre é apenas curta passagem conducente a uma vida melhor; que seus trabalhos aqui em baixo não lhe são perdidos; e que as mais santas afeições não são quebradas sem esperança.

Prece

─ Deus Todo-Poderoso, dignai-vos acolher favoravelmente a prece que vos dirijo pelo Espírito de N... Fazei-o entrever vossas divinas claridades e tornai-lhe fácil o caminho da felicidade eterna. Permiti que bons Espíritos lhe levem minhas palavras e meu pensamento.

Tu, que me eras caro neste mundo, ouve minha voz que te chama para te dar novo penhor da minha afeição. Deus quis que fosses libertado primeiro. Eu não me poderia lamentar sem egoísmo, porque seria lamentar para ti as penas e os sofrimentos da vida. Espero, pois, com resignação, o momento de nossa reunião no mundo mais feliz onde me precedeste.

Sei que nossa separação é apenas momentânea, e que, por mais longa que me possa parecer, a duração se apaga ante a eternidade da felicidade que Deus promete aos seus eleitos. Que sua bondade me preserve de fazer que possa retardar esse instante desejado e que ele me poupe, assim, a dor de te não encontrar ao sair do meu cativeiro terreno.

Oh! Como é doce e consoladora a certeza de que entre nós há apenas um véu material que te subtrai à minha vista! Que podes estar aqui ao meu lado, ver-me e ouvir-me como outrora, e melhor ainda que outrora; que não me esqueces, assim como eu não te esqueço; que nossos pensamentos não cessam de confundir-se, e que o teu me segue e me sustenta sempre!


História de um jumentinho

Num sermão pregado ultimamente contra o Espiritismo, pois foi dada a palavra de ordem de atacá-lo por todos os lados, bem como a seus partidários, o orador, querendo dar um golpe mortal, contou a seguinte anedota:

“Há três semanas uma senhora perdeu o marido. Apresentou-se um médium para lhe propor uma conversa com o defunto, e talvez ela pudesse até vê-lo. A visão não se deu, mas o defunto explicou à sua mulher, pela mão do médium, que não foi julgado digno de entrar no repouso dos bem-aventurados e que se viu obrigado a reencarnar imediatamente para expiar pecados graves. Adivinhais onde? A um quilômetro daqui, na casa de um moleiro, na pessoa de um jumentinho surrado a chicotadas.

“Imaginai a dor da pobre senhora, que corre ao moleiro, abraça o humilde animal e se propõe a comprá-lo. O moleiro foi duro no preço, mas, enfim, cedeu ante um bom saco de moedas, e há quinze dias, mestre Aliboron ocupa um cômodo especial na casa da senhora, cercado de cuidados jamais desfrutados por seus semelhantes, desde que a Deus aprouve criar essa raça estimável.”

Duvidamos que o auditório se tenha convencido da história, mas, ao que sabemos por testemunhas auriculares, a maioria achou que ela ficaria melhor num folhetim gaiato do que no púlpito, tanto pelo fundo quanto pelas expressões. Sem dúvida o orador ignorava que o Espiritismo ensina, sem equívoco, que a alma ou Espírito não pode animar o corpo de um animal (O livro dos Espíritos, nº. 118, 612 e 613).

O que ainda mais nos admira é o ridículo lançado sobre a dor em geral, com a ajuda de um conto alegre e em termos que não brilham pela dignidade. Além disso, de ver um sacerdote tratar assim, com tanta insolência a obra de Deus, por estas palavras pouco reverentes: “Desde quando a Deus aprouve criar essa raça estimável.” O assunto é tanto pior escolhido para fazer graça, quanto poderia objetar-se que tudo é respeitável na obra de Deus, e que Jesus não se sentiu desonrado por entrar em Jerusalém montado num indivíduo daquela raça.

Faça-se um paralelo do quadro burlesco da dor daquela suposta viúva com o da viúva verdadeira cujo relato demos acima, e digam qual dos dois é mais edificante, mais marcado de verdadeiro sentimento religioso e de respeito à Divindade; enfim, qual deles estaria mais bem estabelecido no púlpito da verdade.

Admitamos o fato que contastes, senhor pregador, isto é, não a reencarnação num jumento, mas a credulidade da viúva em tal encarnação. Como castigo, o que lhe teríeis dado em substituição? As chamas eternas do inferno, perspectiva ainda menos consoladora, porque essa mulher viúva certamente teria respondido: “Prefiro saber que meu marido está na pele de um jumento do que sendo queimado por toda a eternidade.” Suponde que ela tivesse de escolher entre o vosso quadro de torturas sem fim e o que nos dá mais acima o Espírito do Sr. Viennois. Credes que ela teria hesitado?

Conscienciosamente não o pensais, porque, por conta própria, vós não vacilaríeis.


Escreve-nos um dos nossos correspondentes de uma cidade do Sul:

“Venho hoje fornecer nova prova que a cruzada de que vos falei se traduz de mil formas. Assistia ontem a uma reunião onde se discutia acaloradamente pró e contra o Espiritismo. Um dos assistentes asseverou o seguinte: ‘As experiências do Sr. Allan Kardec não são melhores do que as de que acabamos de falar. O Sr. Kardec evita contar em sua Revista todas as mistificações e tribulações que experimenta. Sabei, por exemplo, que no ano passado, no mês de setembro, numa reunião de cerca de trinta pessoas, havida em casa do Sr. Kardec, todos os assistentes foram mimoseados a cacetadas pelos Espíritos. Eu estava em Paris na ocasião e ouvi os detalhes de uma pessoa que acabara de assistir à reunião, e que me mostrou na espádua o lugar machucado por violenta cacetada recebida. Eu não vi a bengala, disse-me ela, mas senti a pancada.’

“Desnecessário dizer-vos que desejo ser esclarecido sobre este ponto e que vos seria muito reconhecido pelas explicações que tiverdes a bondade de me dar, etc.”

Não teríamos distraído nossos leitores com um caso tão insignificante, se o mesmo não tivesse fornecido matéria para uma instrução que pode ter utilidade no momento, pois não acabaríamos se tivéssemos que responder a todos os absurdos de que nos acusam.

Resposta. Meu caro senhor, o fato de que me falais está entre as coisas possíveis, e das quais há mais de um exemplo. Dizer que um deles se passou em minha casa é reconhecer formalmente a manifestação dos Espíritos. A forma da história, contudo, denota uma intenção que não me deixa concordar com o autor. Pode ele ser um crente, mas certamente não é benevolente, e esquece a base da moral espírita: a caridade. Se o caso relatado houvesse acontecido, como pretende a pessoa tão bem informada, eu não teria deixado passar em silêncio, porque seria um fato capital, do qual não se poderia duvidar, pois, como foi dito, havia trinta testemunhas levando no lombo a prova da existência dos Espíritos. Infelizmente, para o vosso narrador, não há uma só palavra verdadeira na história. Dou-lhe um desmentido formal, bem como àquele que afirma ter assistido à sessão, e desafio ambos a virem sustentar o que dizem perante a Sociedade de Paris, como o fazem a duzentas léguas.

Os contadores de histórias não pensam em tudo e caem em suas próprias armadilhas. É o que ocorre neste caso, porque há, para o fato tão positivamente afirmado por uma testemunha que se diz ocular, uma impossibilidade material: é que a Sociedade suspende suas sessões de 15 de agosto a 1º de outubro; que partindo de Paris no fim de agosto só voltei a 20 de outubro; consequentemente, que no mês de setembro eu estava em plena viagem. Como vedes, é um álibi dos mais autênticos.

Se, pois, a pessoa em questão levava nas espáduas a marca de bengaladas, e como não houve reunião em minha casa, ela as recebeu alhures e, não querendo dizer onde nem como, achou interessante acusar os Espíritos, o que era menos comprometedor e evitava qualquer explicação.

Meu caro senhor, dais realmente muita importância a essa historinha ridícula, pondo-a entre os atos da cruzada contra o Espiritismo. Há tantas dessa natureza que seria preciso não ter o que fazer para se dar ao trabalho de responder. A hostilidade traduz-se por atos mais sérios e que, entretanto, não são mais inquietantes. Tomais as diatribes dos nossos adversários muito a sério. Pensai, pois, que quanto mais se agitam para combater o Espiritismo, mais provam a sua importância. Se não passasse de mito ou sonho vão, não se inquietariam tanto. O que os torna tão furiosos e encarniçados contra ele é que o veem avançar contra o vento e a maré, e sentem apertar-se cada vez mais o círculo onde se movem.

Deixai, pois, os mal-intencionados inventarem histórias para boi dormir, e outros jogarem o veneno da calúnia, porque semelhantes meios são a prova de sua impotência para atacar com boas razões. Deles nada tem o Espiritismo a temer. Ao contrário, são as sombras que lhe destacam o brilho. Os mentirosos se desgastam com suas invenções, e os caluniadores com a vergonha que jorra sobre eles.

O Espiritismo tem o apanágio de todas as verdades novas que atiçam as paixões das pessoas cujas ideias e interesse elas podem ferir. Ora, vede se todas as grandes verdades que foram combatidas com o maior encarniçamento não superaram todos os obstáculos que lhe foram opostos; se uma só sucumbiu aos ataques de seus inimigos. As ideias novas que apenas tiveram um brilho passageiro caíram por si mesmas e porque não tinham em si a vitalidade que só a verdade pode dar. Estasforam menos atacadas, ao passo que as que prevaleceram o foram com mais violência.

Não penseis que a guerra movida contra o Espiritismo tenha chegado ao apogeu. Não. Ainda é preciso que certas coisas se realizem para abrir os olhos aos cegos. Não posso nem devo dizer mais no momento, porque não devo entravar a marcha necessária dos acontecimentos. Digo-vos, porém, enquanto esperamos: Quando ouvirdes declamações furibundas; quando virdes atos materiais de hostilidade, de qualquer parte de onde vierem, longe de vos abalardes, aplaudi-os tanto mais quanto mais repercussão tiverem. É um dos sinais anunciados do triunfo próximo.

Quanto aos verdadeiros espíritas, devem distinguir-se pela moderação e deixar aos antagonistas o triste privilégio das injúrias e das personalidades que nada provam, a não ser uma falta de habilidade, a princípio, e a penúria de boas razões a seguir.

Ainda algumas palavras, eu vos peço, para aproveitar a ocasião, sobre a conduta em relação aos adversários. Tanto é dever de todo bom espírita esclarecer aos que o procuram de boa-fé, quanto é inútil discutir com antagonistas de má-fé ou com ideia preconcebida, que por vezes estão mais convencidos do que parece, mas não querem confessá-lo. Com estes toda polêmica é ociosa, porque ela não tem objetivo e não leva à mudança de opinião. Muita gente de boa vontade reclama para que não percamos tempo com os outros.

Tal é a linha de conduta que sempre aconselhei e tal a que eu mesmo segui invariavelmente, abstendo-me sempre de ceder às provocações que me foram feitas de descer à arena da controvérsia. Se por vezes respondo a certos ataques e afirmações errôneas, é para mostrar que não é a possibilidade de resposta que falta, e para dar aos espíritas meios de refutação, caso necessário. Aliás, há algumas que reservo para mais tarde. Como não tenho impaciência, tudo observo com calma e sangue frio. Espero confiante o momento oportuno, que sei que virá, deixando que os adversários se metam num beco sem saída.

A medida de suas agressões não está cheia. É preciso que se encha. O presente prepara o futuro. Até aqui não há qualquer objeção séria que não se ache refutada em meus escritos. Não posso, pois, senão enviar a eles, para me não repetir incessantemente com todos aqueles a quem agrada falar do que ignoram as primeiras palavras. Com quem não leu, ou se leu, tomou atitude premeditada, de pé atrás, contra o que é dito, toda discussão é supérflua.

As questões pessoais apagam-se ante a grandeza do objetivo e do conjunto do movimento irresistível que se opera nas ideias.

Pouco importa, pois, que este ou aquele seja contra o Espiritismo, quando se sabe que ninguém tem o poder de impedir a realização dos fatos. É o que a experiência confirma todos os dias.

Digo, pois, a todos os espíritas: Continuai a semear a ideia. Espalhai-a pela doçura e pela persuasão e deixai aos nossos antagonistas o monopólio da violência e da acrimônia a que só se recorre quando não se é bastante forte pelo raciocínio.

Vosso dedicado,
A. K.


Muitas comunicações nos foram enviadas por diferentes grupos, já pedindo conselho e julgamento de suas tendências, já, como umas poucas, na esperança de publicação na Revista. Todas nos foram mandadas com a faculdade de dispormos das mesmas como melhor entendêssemos para o bem da causa. Fizemos o seu exame e classificação, e não fiquem admirados da impossibilidade de publicá-las todas, quando souberem que além das já publicadas, há mais de três mil e seiscentas que, por si sós, teriam absorvido cinco anos completos da Revista, sem contar um certo número de manuscritos mais ou menos volumosos dos quais falaremos adiante. A súmula desse exame nos fornecerá tema para algumas reflexões, que cada um poderá aproveitar.

Entre elas encontramos algumas notoriamente más, no fundo e na forma, evidente produto de Espíritos ignorantes, obsessores ou mistificadores e que juram pelos nomes mais ou menos pomposos com que as assinam. Publicá-las teria sido dar armas à crítica. Uma circunstância digna de nota é que a quase totalidade das comunicações dessa categoria emana de indivíduos isolados e não de grupos. Só a fascinação poderia levá-los a ser tomados a sério, e impedir se visse o lado ridículo. Como se sabe, o isolamento favorece a fascinação, ao passo que as reuniões encontram controle na pluralidade de opiniões.

Reconhecemos, contudo, com prazer, que as comunicações dessa natureza formam, na massa, uma pequena minoria. A maioria das outras encerra bons pensamentos e excelentes conselhos, mas não se negue que todas sejam boas para publicação, pelos motivos que vamos expor.

Os bons Espíritos ensinam mais ou menos a mesma coisa por toda parte, porque em toda parte há os mesmos vícios a reformar e as mesmas virtudes a pregar, e aí está um dos caracteres distintivos do Espiritismo, pois geralmente a diferença está apenas na maior ou menor correção e elegância de estilo.

Para apreciar as comunicações com vistas à publicidade, não se pode analisálas de seu ponto de vista, mas do ponto de vista público. Compreendemos a satisfação que se experimenta ao obter algo de bom, sobretudo quando se começa, mas além de que certas pessoas podem ter ilusões relativamente ao mérito intrínseco, não se pensa que há centenas de outros lugares onde se obtêm coisas semelhantes, e o que é de poderoso interesse individual pode ser banalidade para a massa.

Além disto, é preciso considerar que de algum tempo para cá as comunicações adquiriram, sob todos os aspectos, proporções e qualidades que deixam muito para trás as que eram obtidas há alguns anos. Aquilo que então era admirado, parece pálido e mesquinho ao lado do que se obtém hoje. Na maioria dos centros realmente sérios, o ensino dos Espíritos cresceu com a compreensão do Espiritismo. Considerando-se que por toda parte são recebidas instruções mais ou menos idênticas, sua publicação poderá interessar apenas sob a condição de apresentar qualidades especiais, tanto na forma quanto no alcance instrutivo. Seria, pois, ilusão crer que toda mensagem deve encontrar leitores numerosos e entusiastas. Outrora, a menor conversa espírita era novidade e atraía a atenção. Hoje, que os espíritas e os médiuns são incontáveis, o que era uma raridade é um fato quase banal e habitual, e que foi distanciado pela amplidão e pelo alcance das comunicações atuais, assim como os deveres escolares o são pelo trabalho do adulto.

Temos sob nossas vistas a coleção de um jornal publicado no princípio das manifestações, sob o título de La Table Parlante, título característico da época. Diz-se que o jornal tinha de 1.500 a 1.800 assinantes, cifra enorme para aquela época. Ele continha uma porção de pequenas conversas familiares e fatos mediúnicos que então tinham o enorme atrativo da curiosidade. Aí procuramos inutilmente algo para reproduzir em nossa Revista. Tudo quanto tivéssemos escolhido, hoje seria pueril, sem interesse. Se esse jornal não tivesse desaparecido, por circunstâncias que não vêm ao caso, só poderia ter vivido com a condição de acompanhar o progresso da Ciência, e se reaparecesse agora nas mesmas condições, não teria cinquenta assinantes. Os espíritas são imensamente mais numerosos do que então, é verdade, mas são mais esclarecidos, e querem ensinamentos mais substanciais.

Se as comunicações emanassem de um único centro, sem dúvida os leitores multiplicar-se-iam em razão do número de adeptos, mas não se deve perder de vista que os focos que as produzem se contam por milhares, e que por toda parte onde são obtidas coisas superiores, não pode haver interesse pelo que é fraco e medíocre.

O que dizemos não é para desencorajar de fazer publicações. Longe disso. Mas para mostrar a necessidade de escolha rigorosa, condição sine qua non do sucesso. Elevando os seus ensinamentos, os Espíritos no-los tornaram mais difíceis e mesmo exigentes. As publicações locais podem ter uma imensa utilidade, sob um duplo aspecto, o de espalhar nas massas o ensino dado na intimidade, depois o de mostrar a concordância que existe nesse ensino sobre diversos pontos. Aplaudiremos isto sempre, e os encorajaremos todas as vezes que elas forem feitas em boas condições.

Para começar, convém descartar tudo quanto, sendo de interesse privado, só interessa a quem isso diz respeito, e depois, tudo quanto é vulgar no estilo e nas ideias, ou pueril pelo assunto.

Uma coisa pode ser excelente em si mesma e muito boa para servir de instrução pessoal, mas o que deve ser entregue ao público exige condições especiais. Infelizmente o homem é inclinado a supor que tudo o que lhe agrada deve agradar aos outros. O mais hábil pode enganar-se. O essencial é enganar-se o menos possível. Há Espíritos que se comprazem em alimentar essa ilusão em certos médiuns, por isso nunca seria demais recomendar a eles que não confiem em seu próprio julgamento. É nisto que os grupos são úteis, pela multiplicidade de opiniões que podem ser colhidas. Aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, julgando-se mais esclarecido que todos, provaria sobejamente a má influência sob a qual se acha.

Aplicando estes princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600, há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo, mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas cem de um mérito inconteste. Considerando-se que essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes, inferimos que a proporção deve ser mais ou menos geral. Por aí pode-se julgar da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se quisermos atingir o objetivo a que nos propomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo.

Resta-nos dizer algumas palavras sobre os manuscritos ou trabalhos de fôlego que nos mandaram, entre os quais, de trinta, encontramos cinco ou seis de real valor.

No mundo invisível, como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros. Tal Espírito é apto a ditar uma boa comunicação isolada; a dar excelente conselho particular, mas é incapaz de um trabalho de conjunto completo, que suporte um exame, sejam quais forem suas pretensões. Por outro lado, o nome com o qual ele se compraz em disfarçar-se, não é uma garantia. Quanto mais alto o nome, mais obriga. Ora, é mais fácil tomar um nome do que justificá-lo. Eis por que, ao lado de alguns bons pensamentos, encontram-se, por vezes, ideias excêntricas e os traços menos equívocos da mais profunda ignorância. É nestas espécies de trabalhos mediúnicos que temos notado mais sinais de obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a injunção da parte do Espírito de fazê-los imprimir, e mais de um pensa equivocadamente que tal recomendação basta para encontrar um editor interessado no negócio.

É sobretudo em semelhante caso que um exame escrupuloso se torna necessário, se não nos quisermos expor a aprender às nossas custas. Além do mais, é o melhor meio de afastar os Espíritos presunçosos e pseudossábios, que invariavelmente se retiram, quando não encontram instrumentos dóceis a quem façam aceitar suas palavras como artigos de fé. A intromissão desses Espíritos nas comunicações é ─ e isto é um fato conhecido ─ o maior escolho do Espiritismo. Todas as precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.

Em resumo, publicando comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mais mal do que bem.

Uma consideração não menos importante é a da oportunidade. Umas há cuja publicação é intempestiva, e por isso prejudicial. Cada coisa deve vir a seu tempo. Várias delas que nos são dirigidas estão neste caso e, posto que muito boas, devem ser adiadas. Quanto às outras, acharão seu lugar conforme as circunstâncias e o seu objetivo.


Espíritos incrédulos e materialistas
(Sociedade espírita de Paris, 27 de março de 1863)

Pergunta: ─ Na evocação do Sr. Viennois, feita na última sessão, encontra-se esta frase: “Vossa prece comoveu muitos Espíritos levianos e incrédulos.” Como podem os Espíritos ser incrédulos? O meio em que se acham não é a negação da incredulidade?

Pedimos aos Espíritos que quiserem comunicar-se, que tratem desta questão, se a julgarem propositada.

Resposta (Médium, Sr. d’Ambel): ─ A explicação que me pedis não está toda escrita ao longo de vossas obras? Perguntais por que os Espíritos incrédulos ficaram comovidos. Mas vós mesmo não tendes dito que os Espíritos que se achavam na erraticidade aí haviam entrado com suas aptidões, conhecimentos e maneira de ver antigos? Meus Deus! Sou ainda muito noviço para resolver a vosso contento as questões espinhosas da doutrina. Não obstante posso, por experiência, por assim dizer recentemente adquirida, responder às questões sobre fatos. No mundo em que habitais, acreditava-se geralmente que a morte vem de repente modificar as opiniões dos que partem, e que a venda da incredulidade é violentamente arrancada aos que na Terra negavam Deus. Aí está o erro, porque a punição começa justamente, para esses, em permanecer na mesma incerteza relativamente ao Senhor de todas as coisas e conservar a mesma dúvida da Terra. Não, crede-me, a vista obscurecida da inteligência humana não percebe a luz instantaneamente. Procede-se, na erraticidade, pelo menos com tanta prudência quanto na Terra, e não são projetados os raios da luz elétrica sobre os olhos dos doentes a fim de curá-los.

A passagem da vida terrena à espiritual oferece, é certo, um período de confusão e de turbação para a maioria dos que desencarnam, mas há alguns, já em vida desprendidos dos bens terrenos, que realizam essa transição tão facilmente como uma pomba que se eleva nos ares. É fácil vos dardes conta dessa diferença examinando os hábitos dos viajantes que embarcam para atravessar os oceanos. Para alguns a viagem é um prazer; para a maioria é um sofrimento vulgar, mas afligente, que durará até o desembarque. Pois bem! É isso que acontece, por assim dizer, para quem viaja da Terra para mundo dos Espíritos. Alguns se desprendem rapidamente, sem sofrimento e sem perturbação, ao passo que outros são submetidos ao mal da travessia etérea. Mas acontece o seguinte: Assim como os viajantes que desembarcam em terra, ao sair do navio, recobram o aprumo e a saúde, também o Espírito que transpôs todos os obstáculos da morte acaba por se achar, como no seu ponto de partida, com a consciência límpida e clara de sua individualidade.

É certo, portanto, meu caro senhor Kardec, que os incrédulos e os materialistas absolutos conservam sua opinião além do túmulo, até o momento em que a razão ou a graça tiver despertado em seu coração o pensamento verdadeiro ali escondido. Daí essa

difusão de ideias nas manifestações e essa divergência nas comunicações dos Espíritos de além-túmulo. Daí alguns ditados ainda manchados de ateísmo ou de panteísmo.

Permiti-me, ao terminar, voltar às questões que me são pessoais. Eu vos agradeço por me terdes evocado. Isto me ajudou a reconhecer-me. Agradeço-vos também as consolações dirigidas à minha mulher e vos peço continueis vossas boas exortações em relação a ela, a fim de sustentá-la nas provas que a esperam. Quanto a mim, estarei sempre junto a ela e inspirá-la-ei.

VIENNOIS

Pergunta: ─ Compreende-se a incredulidade em certos Espíritos, mas não se compreenderia o materialismo, pois seu estado é um protesto contra o reino absoluto da matéria e o nada após a morte.

Resposta: (Médium, Sr. d’Ambel) ─ Só uma palavra: Todos os corpos sólidos ou fluídicos pertencem à substância material, isto está bem demonstrado. Ora, os que em vida só admitiam um princípio na Natureza ─ a matéria ─ muitas vezes não percebem, mesmo após a morte, senão esse princípio único, absoluto.

Se refletísseis sobre os pensamentos que os dominaram por toda sua vida, certamente encontrá-los-íeis, ainda hoje, sob o inteiro domínio dos mesmos pensamentos. Outrora eles se consideravam como corpos sólidos; hoje se olham como corpos fluídicos, eis tudo. Notai bem, eu vos peço, que eles se apercebem sob uma forma claramente circunscrita, embora vaporosa, mas idêntica à que tinham na Terra, em estado sólido ou humano, de sorte que eles não veem em seu novo estado senão uma transformação de seu ser naquele em que não tinham pensado, mas ficam convencidos de que é um encaminhamento para o fim a que chegarão, quando estiverem suficientemente desprendidos, para se dissolverem no grande todo universal. Nada mais teimoso do que um sábio, e eles persistem a pensar que, nem por ser demorado, esse fim é menos inevitável.

Uma das condições de sua cegueira moral é a de encerrá-los mais violentamente nos laços da materialidade e, consequentemente, de impedi-los de se afastarem das regiões terrestres ou similares à Terra. E da mesma forma que a grande maioria dos encarnados aprisionados na carne não podem perceber as formas vaporosas dos Espíritos que os cercam, também a opacidade do envoltório dos materialistas lhes veda a contemplação das entidades espirituais que se movem, tão belas e tão radiosas, nas altas esferas do império celeste.

ERASTO.


Outra: (Médium, Sr. A. Didier) ─ A dúvida é a causa das penas e muitas vezes dos erros deste mundo. Ao contrário, o conhecimento do Espiritualismo causa as penas e os erros dos Espíritos.

Onde estaria o castigo se os Espíritos não reconhecessem os seus erros pela consequência, que é a realidade penitenciária da outra vida? Onde estaria o seu castigo se sua alma e seu coração não sentissem todo o erro do cepticismo terreno e o nada da matéria? O Espírito vê o Espírito como a carne vê a carne. O erro do Espírito não é o erro da carne, e o homem materialista que aqui duvidou não mais duvida lá em cima.

O suplício dos materialistas é lamentar as alegrias e as satisfações terrenas, eles que ainda não podem compreender nem sentir as alegrias e as perfeições da alma. E vede o rebaixamento moral desses Espíritos que vivem completamente na esterilidade moral e física, de lamentar esses bens que momentaneamente constituíram a sua alegria e atualmente constituem o seu suplício.

Agora, é verdade que sem ser materialista pela satisfação de suas paixões terrenas, pode-se sê-lo mais no campo das ideias e do espírito do que nos atos da vida. É o que se chama livres-pensadores, e são esses que não ousam aprofundar a causa de sua existência.

Esses, no outro mundo, serão igualmente punidos. Eles nadam na verdade, mas não são por ela penetrados. Seu orgulho abatido os faz sofrer, e eles lamentam aqueles dias terrenos em que, ao menos, tinham liberdade de duvidar.

LAMENNAIS

OBSERVAÇÃO: À primeira vista esta apreciação parece em contradição com a de Erasto. Este admite que certos Espíritos podem conservar as ideias materialistas, enquanto Lamennais pensa que essas ideias são apenas o pesar dos prazeres materiais, mas que esses Espíritos estão perfeitamente esclarecidos quanto ao seu estado espiritual. Os fatos parecem vir em apoio à opinião de Erasto. Se vemos Espíritos que mesmo muito depois da morte ainda se julgam vivos, vagam ou creem vagar nas ocupações terrenas, é que eles têm completa ilusão quanto à sua posição e não se dão conta de seu estado espiritual. Se não se julgam mortos, não seria de admirar que tivessem conservado a ideia do nada após a morte, que para eles ainda não veio. Foi sem dúvida neste sentido que quis falar Erasto.

Resposta: ─ Evidentemente eles têm a ideia do nada, mas é uma questão de tempo. Chega o momento em que no alto se rompe o véu e as ideias materialistas se tornam inaceitáveis. A resposta de Erasto se refere a fatos particulares e momentâneos. Eu não falava senão de fatos gerais e definidos.

LAMENNAIS.

OBSERVAÇÃO: A divergência era apenas aparente e provinha do ponte de vista sob o qual cada um encarava a questão. É evidente que um Espírito não pode ficar perpetuamente materialista. Perguntava-se se essa idéia seria necessàriamente destruída logo após a morte. Ora, ambos os Espíritos são concordes neste ponto, pronunciando-se pela negativa. Acrescentemos que a persistência da dúvida sobre o futuro é um castigo para o Espírito incrédulo. É para ele uma tortura tanto mais pungente quando não tem as preocupações terrenas para o distrair.


Multiplicam-se as publicações espíritas e, como temos dito, nosso encorajamento tem contagiado todas aquelas que ultimamente podem servir à causa que defendemos. São outras tantas vozes que se elevam e servem para espalhar a ideia sob diferentes formas. Se não demos nossa opinião sobre certas obras mais ou menos importantes que tratam de matéria análoga, é que, receoso de que vissem nisso um sentimento de parcialidade, preferimos deixar que a opinião se formasse por si mesma. Ora, vemos que a da maioria confirmou a nossa. Por nossa posição, devemos ser sóbrio em apreciações no gênero, sobretudo quando a aprovação não pode ser absoluta. Ficando neutro, não nos acusarão de ter exercido uma pressão desfavorável, e se o sucesso não corresponder à expectativa, não nos poderão culpar por isso.

Entre as publicações recentes, que temos a satisfação de recomendar sem restrições, lembraremos principalmente as duas pequenas brochuras anunciadas em nosso último número, sob os títulos de Espiritismo sem os Espíritos e A Verdade sobre o Espiritismo experimental nos grupos, por um espírita teórico, sobre as quais mantemos a opinião já emitida, dizendo que, num quadro restrito, o autor tinha sabido resumir os verdadeiros princípios do Espiritismo com notável precisão e num estilo atraente. Na relativa aos grupos, os curiosos e os incrédulos encontrarão uma excelente lição sobre a maneira conveniente de observar o que se passa nos grupos sérios. ─ Preço: 50 cêntimos cada um; 60 cêntimos pelo correio. ─ Livraria Dentu, Palais-Royal.

Também não podemos omitir o jornal La Verité, publicado em Lyon, sob a direção do Sr. Edoux, que igualmente anunciamos. A falta de espaço força-nos a nos limitarmos a dizer que é um novo campeão que parece ser olhado de soslaio, no campo adverso. Ele marcou sua estreia por vários artigos de elevado alcance, assinados Philoléthès, entre os quais destacam-se os intitulados: Fundamento do Espiritismo; o Perispírito ante as tradições; O Perispírito ante a Filosofia e a História, etc. Eles denotam uma pena exercitada, apoiando-se numa lógica rigorosa e que pode, perseverando nessa via, dar trabalho aos nossos antagonistas, sem sair da linha de moderação que parece ser a divisa desse jornal, como a nossa. É pela lógica que se deve combater, e não pelas personalidades, injúrias e represálias.

ALLAN KARDEC

Em breve Bordeaux terá a sua Revista especial, que seremos felizes por ajudar com nossos conselhos, pois insistiram em no-los pedir. Se, como não duvidamos, ela seguir a via da sabedoria e da prudência, não deixará de ter o apoio de todos os verdadeiros espíritas, dos que veem o interesse da causa acima das questões pessoais, de interesse ou de amor-próprio. É por esses, bem se sabe, que nossas simpatias são conquistadas. A abnegação da personalidade, o desinteresse moral e material, a prática da lei do amor e da caridade serão sempre os sinais distintivos daqueles para quem o Espiritismo não é só uma crença estéril nesta vida e na outra, mas uma fé fecunda.

O jornal Courrier de la Moselle, de Metz, de 11 de abril de 1863, traz excelente e notável artigo assinado por Um espírita de Metz, refutando os casos de loucura atribuídos ao Espiritismo. Gostamos de ver os espíritas que entram na liça, opondo a fria e severa lógica dos fatos às diatribes de seus adversários. Citaremos algumas de suas passagens que a falta de espaço nos força a transferirmos para o próximo número.


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