ESCALA ESPÍRITA
Terceira ordem: Espíritos imperfeitos.
Características gerais. — Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhes são consequentes.
Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.
Nem todos são essencialmente maus; uns têm mais leviandade, inconsequência e malícia que verdadeira maldade. Outros nem fazem o bem nem o mal, mas pelo simples fato de não fazerem o bem, revelam inferioridade. Outros, ao contrário, alegram-se no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-lo.
Podem aliar a inteligência à maldade ou à malícia, mas, seja qual for o seu desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e seus sentimentos mais ou menos abjetos.
Seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados e o pouco que sabem se confunde com ideias e preconceitos da vida corpórea. Só nos podem dar noções falsas e incompletas, mas o observador atento descobre muitas vezes em suas comunicações, mesmo que imperfeitas, a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.
Seu caráter é revelado pela linguagem. Todo Espírito que, nas comunicações, trai um mau pensamento, pode ser classificado na terceira ordem; por conseguinte, todo mau pensamento que nos é sugerido vem de um Espírito dessa ordem.
Eles veem a felicidade dos bons, e isto lhes é um tormento incessante, pois experimentam todas as angústias produzidas pela inveja e pelo ciúme.
Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea, e tal impressão é por vezes mais penosa do que a realidade. Sofrem, pois, realmente, pelos males a que foram submetidos e pelos que fizeram outros sofrerem. Como sofrem por muito tempo, julgam que sofrerão eternamente. Para castigá-los, quer Deus que pensem assim. Podem ser divididos em quatro grupos principais:
Nona classe. Espíritos impuros.
Inclinados ao mal, objeto de suas preocupações. Como Espíritos, dão conselhos pérfidos, insuflam a discórdia e a desconfiança e tomam todas as máscaras para melhor enganar. Ligam-se às pessoas de caráter suficientemente fraco para cederem às suas sugestões, a fim de levá-las à perdição, satisfeitos por poderem retardar o progresso, levando-as a sucumbir nas provas que enfrentam.
Nas manifestações se lhes reconhece a linguagem. A trivialidade, a grosseria das expressões, tanto nos Espíritos como nos homens, são sempre indício de inferioridade moral, senão intelectual. Suas comunicações revelam a baixeza de suas inclinações. Se procuram enganar, falando de uma maneira sensata, não conseguem por muito tempo representar o papel e acabam sempre revelando sua origem.
Certos povos fizeram-nos divindades malfazejas; outros designam-nos como demônios, gênios do mal ou Espíritos do mal.
Quando encarnados, os seres vivos que animam são inclinados a todos os vícios que geram as paixões vis e degradantes: a sensualidade, a crueldade, a trapaça, a hipocrisia, a cupidez e a sórdida avareza.
Fazem o mal por prazer, o mais das vezes sem motivo e, pelo ódio ao bem, quase sempre elegem suas vítimas entre gente de bem. São flagelos para a humanidade, seja qual for a classe a que pertençam, e o verniz da civilização não os isenta do opróbrio e da ignomínia.
Oitava classe. Espíritos levianos.
São ignorantes, malévolos, inconsequentes e zombeteiros. Metem-se em tudo, e a tudo respondem sem preocupação com a verdade. Gostam de causar pequenos aborrecimentos e pequenas alegrias; de produzir discórdias; de induzir maliciosamente ao erro por mistificações e por travessuras. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente designados sob os nomes de duendes, diabretes, trasgos, gnomos. Eles estão sob a dependência de Espíritos superiores, que muitas vezes os empregam como nós o fazemos com os criados e os operários.
Eles parecem, mais do que os outros, ligados à matéria, e aparentam ser os principais agentes das vicissitudes dos elementos do globo, quer vivam no ar, na água, no fogo, nos corpos sólidos ou nas entranhas da Terra. Muitas vezes manifestam sua presença por efeitos sensíveis, tais como pancadas, movimento e deslocamento anormal dos corpos sólidos, agitação do ar, etc., o que lhes valeu o nome de Espíritos batedores. Reconhece-se que tais fenômenos não são devidos a uma causa fortuita e natural quando têm um caráter intencional e inteligente. Todos os Espíritos podem produzir esses fenômenos, mas os Espíritos elevados em geral deixam essas atribuições aos inferiores, mais aptos para as coisas materiais do que para as inteligentes.
Em suas comunicações com os homens, sua linguagem é por vezes espirituosa e alegre, mas quase sempre sem profundidade. Apreendem os caprichos e o ridículo, que exprimem em traços mordazes e satíricos. Se por vezes tomam nomes fictícios, é mais por malícia do que por maldade.
Sétima classe. Espíritos pseudossábios.
De conhecimentos bastante extensos, julgam saber mais do que realmente sabem. Tendo feito algum progresso sob vários pontos de vista, sua linguagem tem um caráter sério e pode levar a enganos quanto à sua capacidade e às suas luzes, mas muito comumente é simples reflexo dos preconceitos e das ideias sistemáticas da vida terrena. É a mistura de algumas verdades ao lado dos maiores absurdos, em cujo meio sobressaem a presunção, o orgulho, a inveja e a teimosia, de que não se despojaram.
Sexta classe. Espíritos neutros.
Nem são bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus para fazerem o mal. Inclinam-se para um ou para o outro e não se alçam acima do vulgar na humanidade, tanto para o moral quanto para a inteligência. Apegam-se às coisas do mundo, de cujas alegrias grosseiras têm saudades.
Segunda ordem: Bons Espíritos.
Características gerais. — Predominância do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. As qualidades e a capacidade de fazer o bem são proporcionais ao grau atingido: uns têm ciência; outros, sabedoria e bondade; os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Como não se acham completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, conforme sua classe, os traços da existência corporal, tanto na forma da linguagem quanto nos hábitos, onde chegamos mesmo a descobrir certas manias, sem o que seriam Espíritos perfeitos.
Compreendem Deus e o infinito e já desfrutam da felicidade dos bons. Sentem-se felizes pelo bem que praticam e pelo mal que impedem. O amor que os une lhes é uma fonte de inefável felicidade, que não é alterada nem pela inveja, nem pelos pesares, nem pelos remorsos, nem por quaisquer outras das más paixões que atormentam os Espíritos imperfeitos, mas todos têm ainda que passar por provas, antes de atingirem a perfeição absoluta.
Como Espíritos, suscitam bons pensamentos; desviam os homens dos caminhos do mal; protegem em vida os que se tornam dignos dessa proteção e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos sobre aqueles que não se comprazem em submeter-se a ela.
Quando encarnados, são bons e benevolentes para com os seus semelhantes. Não são movidos por orgulho ou egoísmo, nem pela ambição. Não experimentam ódio, rancor, inveja ou ciúme e fazem o bem pelo bem.
A esta ordem pertencem os Espíritos designados nas crenças vulgares como bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Nos tempos de superstição e de ignorância, foram transformados em divindades benfazejas.
Também podem ser divididos em quatro grupos principais:
Quinta classe. Espíritos benevolentes.
A bondade é sua qualidade predominante. Gostam de servir aos homens e de protegê-los, mas seu saber é limitado: seu progresso foi realizado mais no sentido moral que intelectual.
Quarta classe. Espíritos de ciência.
O que principalmente os distingue é a extensão dos conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as científicas, para as quais têm maior aptidão, mas só encaram a ciência do ponto de vista da utilidade, nela não misturando nenhuma das paixões características dos Espíritos imperfeitos.
Terceira classe. Espíritos de sabedoria.
Seu caráter distintivo são as qualidades morais da mais elevada ordem. Seus conhecimentos não são ilimitados, mas são dotados de uma capacidade intelectual que lhes dá um juízo seguro sobre os homens e as coisas.
Segunda classe. Espíritos superiores.
Reúnem ciência, sabedoria e bondade. Sua linguagem constantemente digna e elevada só respira benevolência, e por vezes é sublime. Sua superioridade os torna, mais que os outros, aptos para nos darem as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, nos limites do conhecimento permitido ao homem. Comunicam-se de boa vontade com aqueles que de boa-fé procuram a verdade e cuja alma é bastante desprendida dos laços terrenos para compreendê-la, mas afastam-se dos que são animados pela curiosidade ou desviados da prática do bem pela influência da matéria.
Quando excepcionalmente reencarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso. Oferecem-nos, então, o tipo da perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo.
Primeira ordem: Espíritos puros.
Características gerais. — É nula a influência da matéria. Absoluta superioridade intelectual e moral em relação aos Espíritos de outras ordens.
Primeira classe. Espíritos puros.
Percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo atingido a suprema perfeição a que é susceptível a criatura, não têm que passar por provas nem por expiações. Não mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, têm a vida eterna que se realiza no seio de Deus.
Desfrutam de uma felicidade inalterável, pois já não se acham sujeitos às necessidades nem às vicissitudes da vida material, mas tal felicidade não é uma ociosidade monótona passada numa contemplação perpétua. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudando-os a se aperfeiçoarem e designando-lhes missões. Assistir os homens em suas angústias, excitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os afastam da suprema felicidade, são-lhes agradáveis ocupações. Por vezes são designados sob o nome de anjos, arcanjos ou serafins.
Os homens podem entrar em comunicação com eles, mas muito presunçoso seria aquele que pretendesse tê-los constantemente às suas ordens*.
* Esta classificação foi ligeiramente alterada por Allan Kardec, quando deu forma definitiva ao Livro dos Espíritos, como se pode ver da 2.ª edição francesa, Livro II, Cap. 1, n.º 101 a 113. Aí as classes são dez: Compõem a terceira ordem os Espíritos impuros, levianos, pseudossábios, neutros e batedores/ perturbadores; as outras ordens não sofreram modificações. (N. do T.)